domingo, 10 de maio de 2009

Stiglitz responde aos leitores do Económico

in diarioeconomico.pt

O Nobel da Economia em 2001, Joseph Stiglitz, esteve hoje em Lisboa e respondeu a uma das várias perguntas que os leitores do Económico enviaram ao longo do último mês. Veja aqui a resposta.

  • A pergunta seleccionada pelo Económico foi: "Considerando que as agências de ‘rating' falharam a soar o alarme quando a crise começou a emergir, considera que elas devem manter o seu papel actual ou entende que devem ser impostas alterações"?
  • Stiglitz respondeu:

"As agências de 'rating' acreditavam que os bancos de investimento eram financeiramente saudáveis.

Na Idade Média havia a noção de que se podia criar riqueza convertendo metal em ouro. As agências de 'rating' acreditaram numa nova alquimia: converter créditos hipotecários de má qualidade em instrumentos com bons 'ratings' para vender a fundos de pensões. Foi uma ideia estúpida.

Em 1992, previ que a securitização acabaria em desastre, porque estavam a ser cometidos erros. Um deles foi subestimarem a correlação entre os activos.

Outro problema foi que as agências de ‘rating' disseram que os preços nunca caem. Mas os preços caem. Subestimaram este risco.

Uma das razões que leva as pessoas a pensar que as agências falharam foram os incentivos errados. Um dos problemas é que são pagas pelas entidades a que atribuem ‘ratings'. Pior do que isso, as agências também prestaram serviços de consultoria onde explicavam como se podia obter um bom ‘rating' e cobravam por isso. Todo o sistema era uma fraude.

Mas o problema real foi a credibilidade dada às agências de 'rating' pelos governos, bancos, fundos de pensões e outros investidores. Quase que as consideravam como uma agência governamental. Era como pedir à Federal Drug Administration (reguladora do sector farmacêutico nos EUA) para classificar e dizer que determinado medicamento é seguro e ser paga pela empresa que o produz. Ninguém iria confiar nesse sistema.

Uma das ideias que estamos a debater nos EUA é a criação de um centro que analise a segurança dos produtos financeiros. Não para atribuir um ‘rating', mas para dizer se determinado produto é seguro e se faz o que é suposto fazer".

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