domingo, 2 de agosto de 2009

Fragmentos - Livro I - Ana de Sousa, 118

118

os lábios movem-se,
movem-se lentos os lábios,
entrecortando o rumor do respirar,
cicatrizando, nos instantes, os fogos que se ateiam sob a pele,
suspirando! suspirando apelos,
novelos de espasmos que descem à boca,
pressentindo a saliva na interior rugoso do beijo

movem-se os lábios
lentos, os lábios

tensas e finas linas que separam, tenuemente, os horizontes
e cortam o sangue que se pressente, pulsante,
escorregando no tortuoso gemido do acaso,
quando a língua escava e sulca, desbrava e conquista,
os arrepios das vermelhas folhas, levadas pelo vento
à conciliação do beijo,
que adivinhinando no percurso do orvalho, desenha pudores no teu peito
(um pássaro chamado "desejo" queima!)

os lábios movem-se,
movem-se lentos os lábios,
conspirando, na fulguração do simulado toque, a (tua) cama improvisada.

ISIN 989-95000-0-3

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