in Diário de Notícias
Descobertas pinturas rupestres com cinco mil anos
por LUÍS MANETA, Évora
Investigadores da Universidade de Évora identificaram novo conjunto de imagens datadas do III e IV milénios antes de Cristo numa gruta em - Arronches. Será criado um Centro de Interpretação de Arte Rupestre.
Uma equipa de investigadores da Universidade de Évora, liderada pelo arqueólogo Jorge Oliveira, identificou um novo conjunto de pinturas rupestres numa gruta localizada nas proximidades da aldeia de Esperança, concelho de Arronches.
Datadas do III e IV milénios antes de Cristo (a.C.), as pinturas foram descobertas num local conhecido como Pego do Inferno, no âmbito de um projecto de investigação sobre Arte Rupestre em Arronches (ARA).
"São pinturas esquemáticas, feitas a vermelho e negro, que se inscrevem no mesmo estilo de outras anteriormente identificadas na Esperança", diz Jorge Oliveira ao DN, classificando esta região como "o mais importante santuário de arte rupestre no Sul do país".
A descoberta deste novo conjunto pictórico, formado pelo menos por três painéis, resultou de um mero acaso. Para além do decalque e fotografia de todas as pinturas rupestres já conhecidas, os investigadores decidiram avançar com a prospecção sistemática da zona envolvente.
"Se temos grutas com pinturas, têm de existir nas redondezas outros espaços paralelos, como povoados ou antas", resume Jorge Oliveira, revelando que durante esse trabalho foram identificados alguns pequenos locais com pinturas e três dólmenes.
A partir do momento em que o trabalho dos arqueólogos se tornou conhecido na aldeia, não tardou a surgir uma revelação espantosa: um funcionário da autarquia lembrou-se da existência de uma gruta na zona do Pego do Inferno, praticamente inacessível, onde em tempos se tinha "acoitado um homem que andava no pilho [roubo]".
Quando a equipa de investigadores, que integra alunos da Universidade de Évora e envolve a colaboração do Laboratório de Física Nuclear da Universidade da Extremadura, chegou ao local, a descoberta foi surpreendente. "Mal entrámos, do lado esquerdo, apesar do negro de fumo em abundância, eram visíveis sinais de pinturas. Ali estavam elas", recorda Jorge Oliveira, enquanto acompanha o DN numa visita ao interior da gruta, localizada na margem portuguesa da ribeira do Abrilongo, num dos sopés da Serra de São Mamede.
O primeiro passo foi fazer o registo fotográfico dos três painéis encontrados. Agora, as paredes serão limpas num trabalho minucioso destinado a revelar a eventual existência de mais pinturas.
Segundo o coordenador da equipa, estas representações antropomórficas comprovam a utilização daquele espaço como um local sagrado. "Estamos na presença de uma arte esquemática, elaborada, feita por comunidades neolíticas, calcolíticas e da Idade do Bronze. Já não é apenas um retrato pleno da realidade como fez o Homem do paleolítico em Foz Coa. Esta é a antecâmara da escrita, daí ser impossível descodificar o significado de todos estes signos e símbolos", acrescenta.
Para além dos trabalhos de campo, o projecto ARA prevê a adaptação de um antigo lagar de azeite a Centro de Interpretação da Arte Rupestre, onde terão início percursos pelos locais de Esperança onde há pinturas do neolítico.
O abrigo mais decorado, e o primeiro do conjunto a ser descoberto, em 1914, é o dos Gaivões onde se destaca a "narração" de uma cena de pastorícia, "perfeitamente contextualizável na tipologia da sociedade agro-pastoril" instalada na região há cinco mil anos.
Convencido de que "ainda haverá mais pinturas nas serras", o presidente da Junta da Esperança, Diamantino Ribeiro, diz que o futuro centro de interpretação poderá ser um "contributo importante para tornar este património conhecido e desenvolver o concelho".
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