A crise económica está a pressionar os preços em baixa. Ultimamente, têm caído na Irlanda, no Luxemburgo, na Suíça, em Portugal.
E, para além desta queda, que pode ser momentânea, projectam-se reduções anuais nos Estados Unidos, na China, no Japão. Há pessoas inquietas: será que se caminha para uma redução generalizada e sustentada dos preços, a que se dá o nome de deflação? E, se sim, com que consequências para a economia no mundo?
Imagino o senso comum: baixa de preços? É óptimo. Não é. Ao interiorizarmos a ideia de que os preços vão baixar, adiamos tudo para "amanhã", porque é mais barato. E um adiamento generalizado paralisa a economia. Pior do que isso, o movimento pode tornar-se circular: a crise económica gera deflação, que agrava a crise económica, que provoca ainda mais deflação... - um gira girou, até que o círculo se rompa. Foi o que nos anos 90 sucedeu no Japão.
As consequências de uma deflação resumem-se basicamente a três. A riqueza nominal diminui e o endividamento mantém-se, pelo que a dívida relativa aumenta: as pessoas ficam mais pobres. As taxas de juro reais, obtidas ao expurgar-se a inflação, acabam na prática por subir, na exacta medida em que a inflação desce: a vida fica mais difícil. E a componente psicológica faz o resto: com menos dinheiro e dinheiro mais caro está instalado o caos - e o círculo vicioso que o alimenta.
Aqui entram os economistas. Se o movimento circular criou um impasse, quais as políticas mais adequadas para o ultrapassar? Eis o drama: eles não sabem. Os economistas sabem que uma alta inflação se combate subindo as taxas de juro: o modelo está testado e funciona bem. Mas não sabem como se combate a deflação: a descida das taxas esbarra no ponto zero e isso às vezes não chega. Os economistas viraram baratas tontas.
E será que a deflação é mesmo uma ameaça séria? Não creio. O que se passou até agora ficou a dever-se à queda dos preços do petróleo, que entretanto já se inverteu. Receio mais o inverso: antes de a retoma se iniciar, é provável que haja nova pressão sobre os preços, com nova subida dos juros e o consequente arrefecimento económico. Seria o pior de todos os cenários: a estagflação.
Mas os deuses vão estar connosco.
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