quinta-feira, 29 de abril de 2010

A ler: Crónica sobre o 1º de Maio

"Maio
Foi em Paris, em 14 de Julho de 1889, que o congresso fundador da II Internacional propôs a proclamação do 1.º de Maio como Dia Internacional dos Trabalhadores, em homenagem aos “mártires de Chicago”, como ficaram conhecidos os trabalhadores vítimas da repressão, nas manifestações realizadas naquela cidade a 1 e 4 de Maio de 1886.
Desde essa data e ao longo de 120 anos, sempre o 1.º de Maio marcou o calendário das lutas dos trabalhadores do mundo inteiro, pela conquista de direitos básicos e pela emancipação dos trabalhadores.
Em Portugal, o 1.º de Maio é celebrado logo em 1890, embora com uma dimensão reduzida, através de piqueniques de confraternização, discursos e romagens aos cemitérios como forma de homenagear aqueles que caíram na luta.
O 1.º de Maio de 1919, ficará marcado pela conquista das oito horas de trabalho diário e o direito ao descanso ao domingo para os trabalhadores do comércio e indústria.
Durante a ditadura, apesar das proibições, sempre os trabalhadores portugueses encontraram forma de transformar o primeiro dia de Maio em dia de luta contra o regime, sendo de realçar as greves e manifestações de 1962, que constituíram a mola impulsionadora que permitiu aos operários agrícolas pôr fim à desumana jornada de trabalho de sol a sol.
Estará para sempre presente na memória dos que o viveram, a dimensão das manifestações do primeiro 1.º de Maio em liberdade.
Seis dias depois da queda da ditadura, os portugueses vieram à rua confirmar o rumo revolucionário do processo iniciado em 25 de Abril.
Durante os últimos 34 anos, o 1.º de Maio tem sido sempre uma jornada de luta contra as políticas que nos colocaram no estado em que hoje estamos: um país mais dependente e mais desigual.
Este ano, quando o PS e o PSD se unem, debaixo do aplauso de banqueiros, de confederações patronais e de comentadores e economistas que mais parecem caixas de ressonância dos seus interesses, para imporem aos que menos têm, o sacrifício de pagarem a crise que não provocaram, o dia do trabalhador, como dia de luta e de resistência, ainda faz mais sentido.
Apesar dos recuos e derrotas, a situação dos trabalhadores não pode ser comparável há que existia há 120 anos atrás.
E, no entanto, o que esteva na origem das manifestações de Chicago: a reivindicação da fixação de um horário máximo diário de oito horas, volta a estar na ordem do dia.
É curioso como o patronato apresenta, hoje, como uma grande bandeira de modernidade o regresso a uma realidade dos finais do século XIX, quando defende jornadas diárias de 12 horas ou a desregulação dos horários de trabalho que, na prática, visam colocar o trabalhador na total disponibilidade da empresa.
Quem diria que a reivindicação dos três oitos formulada pela I Internacional, no século XIX, viria a estar actual no início do século XXI.
Para quem acha que moderno é mesmo trabalhar 24 horas por dia, deve ser assustadora a ideia da divisão do dia em tempo de trabalho, de lazer e de descanso, em iguais proporções.
Quem diria que no alvor deste século, com todas as revoluções tecnológicas, nos iriam fazer acreditar que o progresso está no regresso ao mais obscuro passado.
O 1.º de Maio é dia de luta. De luta política, porque como afirmaram Marx e Engels toda a luta de classes é uma luta política.
Depois de Aguiar Branco se atrever a citar Lenine, talvez não pareça mal aos ouvidos mais sensíveis que cite Marx e Engels e se coíbam de dizer que nasci com cem anos de atraso.
Até para a semana

Eduardo Luciano"

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