segunda-feira, 5 de abril de 2010

A Criança em Ruínas, José Luís Peixoto – p.72

se esta é a história de dois que se resgataram da vida,
ele é o que chegou de lado nenhum para conhecer o
céu dos teus olhos, o mar dos teus olhos e a paz tantas vezes,
ele é a brisa na pulsação lenta da terra constante constante
nos teus cabelos nos teus cabelos, se esta é a história
se esta é a história de dois que se enredaram na vida,
como água de mergulhar, água que refresca na pele,
como água que se bebe num copo de vidro e se bebe
como água desejosa de morrer e com medo de morrer,
ela é a claridade que o meu olhar atravessa, o sol vivo e criança,
a manhã primeira a procurar-me e a ser o meu sossego,
ela é a que chegou santificada a caminhar imaterial acima
através por sobre mim dentro de mim dentro do meu coração,
o ritmo sereno do teu rosto calmo aqui no meu peito,
no meu coração e ela ela é toda esta história cantada
por pássaros a voar nos teus cabelos e ele repetido por mim
é a terra no meu peito, o meu peito cheio de terra,
se esta é a história de dois que mergulharam mortos na vida,
que a beberam num copo de vidro, és tu que o sonhas
e lhe dás o céu que ele respira e sou eu num sonho
que recebo e respiro o céu que ela me dá

*José Luís Peixoto – A Criança em Ruínas, Quasi
p.72 – se esta é a história de dois que se resgataram da vida

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