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Leia na integra a história da mulher selvagem.
Esta história (Geschicht) perde-se na noite dos tempos, quando a localidade (Uertschaft) de Differdange (Déifferdeng) ainda era pouco (wéineg) povoada e que os homens (d’Mënschen) ainda nem sequer (mol net) sabiam que a riqueza do minério (Minnett) daquela (vun däer) região iria dar origem à prosperidade e à riqueza (Räichtum) de todo um país (Land) .
Não muito longe dali (net wäit eweg vun do) , o bosque (de Bësch) luxuriante chamado o "Groussebësch" (grande bosque) nutriu a imaginação do povo (Vollek) trazendo à luz uma lenda (Seechen) que acabou por dar o nome à aldeia (Duerf) da qual hoje aqui (hei) vamos falar – Lasauvage (Zowaasch) . O vale que corre paralelo à fronteira (Grenz) francesa foi unicamente (nëmmen) povoado por volta (ëm) do século XVII e a razão (Ursaach) desse povoamento tardio teve seguramente (ganz bestëmmt) origem na história que, durante séculos (Joerhonnerter) , por ali correu. Dizia-se que naquele vale (Dall) , num buraco (Lach) de um penedo negro e enorme, o penedo de La Cronnière, vivia uma mulher (Fra) selvagem (wëll) que só se alimentava de carne (Fleesch) crua (réi) . A sua cabeleira espessa e comprida (laang) , tão comprida que lhe chegava aos pés (Féiss) e se lhe enrolava à volta do corpo (Kierper) , era o único (war den eentzegen) manto que a cobria. Os olhos (d’Aen) grandes e vermelhos (rout) eram tão grandes que lhe chegavam até (bis) à raiz dos cabelos e brilhavam como se fossem carvões ardentes. Na sua boca (Mond) , enorme, viam-se, não uma (net eng) , mas duas (mee zwou) filas de dentes (Zänn) e a sua voz (Stëmm) profunda (déif) e aguda era como o grito (Kreesch) de uma coruja (Eil) que trespassava o breu da noite – as unhas (d'Neel) espessas (déck) e compridas eram como as garras de uma águia (Adler) .
Quando a mulher selvagem morreu, foi direitinha ao Inferno (Hell) , só que, ao chegar lá, não pôde entrar (eragoen) porque pensaram que se tratava de um animal e que ali não era sítio (Plaz) para ele. Assim, viu-se obrigada (gezwongen) a voltar para a Terra (Äerd) e os habitantes (Awunner) daquela região nunca mais (nie méi) encontraram sossego (Rou) porque o seu espírito (Geescht) errava por ali, noites inteiras, a gritar (jäitzen) desesperadamente.
Passaram uns anos até que um ermita, muito piedoso (fromm), que habitava no bosque (Bësch), conseguiu expulsar o espírito da mulher selvagem para muito longe, lá, para além dos mares. E fê-lo invocando S. Donato e Nossa Senhora do Luxemburgo (Muttergottes vu Lëtzebuerg) . A partir daí (vun do un) , instalou-se a paz (Fridden) naquele "vale da mulher selvagem" começando, a pouco e pouco (lues a lues) , a ser povoado. Ainda hoje (nach haut) se podem ver gravadas no penedo de "La Cronnière" as imagens de S. Donato e de N.S. do Luxemburgo, assinalando assim a "milagrosa invocação".
Foi em 1623 que, no local onde (wou) hoje (haut) se encontra o edifício da escola primária (Primärschoul) , um habitante de Longwy (Lonkesch) instalou um alto forno (héich Uewen) e uma forja (Schmëdd) . Mais tarde (méi spéit) , foram construídos dois outros (zwee aner) altos-fornos e Lasauvage é considerada como a primeira forja, ou a primeira fábrica de ferro do país. Funcionou durante (während) 250 anos, mas, em 1877, a concorrência de outros altos-fornos mais modernos construídos na região, e que utilizavam uma outra (eng aner) qualidade de minério, acabou pour ditar o fim (den Enn) da era industrial daquele vale.
O conde (de Grof) Saintignon, de origem francesa, proprietário da fábrica nos finais do século XIX, princípios do século XX, não querendo deixar morrer Lasauvage, continuou a extrair o minério e, pensando poder ali encontrar (fannen) minas de carvão (Kuel) , mandou fazer algumas (verschidden) foragens. Só que, o que encontrou, foi apenas (et wor nëmmen) água mineral. Não se querendo deixar dar por vencido, lançou um projecto de termas e iniciou a construção de um luxuoso hotel termal. Mas, esse sonho (Dram) não foi avante e as termas nunca chegaram a funcionar. No entanto, ainda hoje se pode ver o "esboço" do que deveria ter sido esse hotel, isto é (dat heescht) , o actual café "Balcon".
Mas a extracção do minério tornou-se rentável e, a tal ponto, que era Lasauvage que fornecia as fábricas de Differdange e de Saulnes (em França).
Durante a Primeira Guerra Mundial (den éischte Weltkrich), o conde de Saintignon recusando-se a fornecer minério à fábrica de Differdange, então ocupada pelos alemães, decidiu encerrar (zoumaachen) as minas e a despedir (entloossen) todos os operários. A partir daí, a localidade perdeu toda a actividade mineira. A sua situação geográfica e os caminhos (Weër) de acesso tornam-na mais próxima (méi no) do território francês do que da cidade vizinha de Differdange, razão pela qual os habitantes só falavam francês (e não luxemburguês) e iam à missa e ao mercado (Maart) , não a Differdange, mas a França.
Uma outra (eng aner) curiosidade é o facto de o cemitério (Kierfecht) se encontrar em território francês, o que, até 1980, impunha a presença de um funcionário (Beamten) francês nos funerais (Begriefnesser) dos habitantes desta pequena povoação luxemburguesa.
Foi igualmente em Lasauvage que o governo (Regierung) luxemburguês mandou reforçar a casa onde residia o responsável da mina, transformando-a em casemata para, em caso (am Fall) de ataque aéreo alemão, poder servir de refúgio à Grã-Duquesa.
A igreja (d’Kierch) , de estilo neogótico, foi mandada construir em 1893 pelo conde de Saintignon e tem por modelo a Santa Capela de Paris. A igreja, cujos materiais são da região (os blocos de pedra são os restos de um alto-forno que ali existia e a madeira provém das matas circundantes), foi consagrada a S. João Batista. Lasauvage pertence à comuna de Differdange, localidade que está geminada com a cidade portuguesa de Chaves.
O "vale da mulher selvagem" é um sítio a descobrir (eng Plaz fir ze entdecken) !
Maria Januário
Foto: Comuna de Differdange
(Rubrica de civilização, cultura e língua luxemburguesas, publicada na segunda e na quarta semana de cada mês; Próxima publicação: 23 de Dezembro)
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