Crónica luxemburguesa: A pedra do diabo e a donzela do Vale do Moleiro
Em tempos recuados, quando ainda (nach) não havia Internet, nem jogos (Spiller) electrónicos, nem sequer (mol net) electricidade, inventavam-se histórias (Geschichten) e lendas (Seechen) para (fir) alimentar a imaginação dos homens (Mënschen) e até mesmo para justificar certos "mistérios" sobre curiosidades da natureza (Natur) para as quais não havia explicação, nem conhecimentos apropriados que pudessem resolver tais questões (Froen) .Assim (esou) , uma lenda do vale do Mosela atravessou os séculos e chegou até (bis) nós para percebermos (verstoen) o porquê (firwat) de umas pedras (Steng) enormes que se encontram espalhadas pela colina (Hiwwel) de Grevenmacher (Gréiwemaacher) ...
Já lá vai muito tempo que, entre (zwëschen) Grevenmacher e Manternach existiu um grande (grouss) bloco monolítico cuja origem, ali (do) , naquele (op däer) sítio (Plaz) , gerou muitas perguntas (Froen) . No decorrer dos anos (Joeren) essa pedra fragmentou-se em vários blocos e com o decorrer do tempo, o sol (d’Sonn) e a chuva (de Reen) , deixaram nelas marcas gravadas, tal como se fossem pegadas de animais (Déieren) . Assim começou a história da pedra do Diabo (Däiwel) ... Pois bem, o maligno ouviu dizer (soen) que em Trier iam construir (bauen) uma (eng) grande torre (Tuerm) , um miradouro, que lhe seria inteiramente (ganz) consagrado. É certo (secher) que, tal facto, só o podia enaltecer. Desejando contribuir pessoalmente (perséinlech) para a dita obra de arte (Konschtwierk) que lhe iam erigir, veio-lhe à ideia levar (matbréngen) para lá uma enorme pedra, que fosse muito bonita (ganz schéin) e que pudesse servir de pedra de fundação desse seu grandioso monumento. Não lhe foi difícil (et wor him net schwéier) encontrar (fannen) a pedra mais bonita que havia – ele sabe tudo (hie weess alles) – e, com ela às costas, lá foi a caminho de Trier (Tréier) . Ao chegar a Grevenmacher, um viajante perguntou-lhe porque transportava carregamento tão pesado. Ao ouvir (héieren) a razão (de Grond) o homem explicou-lhe que o tinham enganado, que o que estavam a começar (ufänken) a construir em Trier não era nenhum (keen) miradouro, nem monumento algum em sua honra, mas sim a catedral daquela cidade (Stad) . Calcule-se como o diabo ficou... Zangado, e cheio de raiva, subiu ao outeiro da cidade, deitou o bloco de pedra ao chão e com um ódio tremendo para com os humanos dançou a noite (d’Nuecht) inteira sobre aquelas "malditas" pedras (Steng) . Assim, eis a razão pela qual, ainda hoje (nach haut) se podem lá ver gravadas as pegadas do diabo...
Em (am) Müllerthal (Mëllerdall = vale do moleiro) a donzela Griselinde vivia no seu castelo (Schlass) em companhia da fada (Fee) "Harmónica" que lhe tinha ensinado não só (net nëmmen) a cantar (sangen) melodias maravilhosas (wonnerschéin) , mas (awer) que também (och) lhe tinha dado um poder mágico: a magia da sua voz (Stëmm) transformava em pedra todos aqueles (all déi) que ficassem indiferentes ao encanto das suas melopeias. Esta era a melhor maneira de encontrar o verdadeiro "príncipe encantado" que mereceria a sua beleza (Schéinheet) e os seus dons excepcionais. Foi assim (et wor esou) , que dezenas de nobres cavaleiros, indiferentes a uma voz tão bela, foram transformados em rochas e penedos, que hoje podemos (kënnen) ver (gesinn) espalhados pelo bosque (Bësch) de Müllerthal! Mas um dia, o cavaleiro de Folkendange ao passar por ali, ficou subjugado com um canto que provinha lá de cima do castelo. E (an) , não resistindo a tão lindo trinado, decidiu trepar por um rochedo para ir ver (fir kucken ze goen) quem entoava melodia tão bela. Só que, coitado (den aarmen) , com a sua armadura e a sua espada (Schwäert) tão pesada (schwéier) , não lhe foi possível (et wor him net méiglech) chegar lá acima – desiquilibrou-se e caiu numa falha profunda (déif) entre dois (zwee) enormes rochedos. Foi então que os gemidos do pobre cavaleiro, moribundo (am Stierwen) , no fundo do abismo, chegaram aos ouvidos da nobre donzela. Ela e os seus súbditos logo acorreram, tentando ver de onde vinham gemidos tão lancinantes. Chegando junto ao precipício e, ao ver o nobre cavaleiro, de quem logo se apaixonou, Grieselinde não conseguiu resistir a tão grande desgosto e sofrimento, vindo a falecer (stierwen) uns (e puer) dias (Deeg) depois (duerno) . E é assim que, desde (zënter) esse (deen) dia (Dag) , e logo que a Primavera (Fréijoer) chega, a donzela Grieselinde volta ao castelo onde (wou) não pôde ser feliz (glécklech) com o seu nobre cavaleiro (Ritter) para ali (do) entoar uma das suas sempre lindas melodias.
Maria Januário
(Rubrica de civilização, cultura e língua luxemburguesas, publicada na segunda e na quarta semana de cada mês na edição papel do jornal CONTACTO)
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